"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Não pode ser real

São duas linhas paralelas
Gosto de imaginar que elas se tocam
No infinito…
Lá elas são livres e dançam
Algo inimaginável, absolutamente
Sem sentido...

É como apreciar o outro canto do universo
Suas mudas explosões de cores diversas
Imagino os deuses em cores e verso
Em um carnaval que pelas ruas se dispersa

E de repente imagino que o poeta sou eu
Ou que a orquestra toca pra mim
Que o jardim mais bonito é o meu
Que não existe e nem existirá fim

Penso e como não pensaria,
Pularia da primavera ao outono
Viveria esse sonho, como em poesia
Voltaria, num comum acordo, sem abandono

Eu iria tão alto, ao topo do mundo
Veria o céu, mas voltaria pra terra
Seria intenso, profundo,
Mas como tudo que hora se encerra

Imagino como seria se um só sorriso
Refletisse toda a sorte de pensamentos

Não
E é tão óbvio que não pode ser real
Mas eu não deixo de imaginar
Como seria lindo

Ítalo

08/11/13

domingo, 11 de agosto de 2013

Ver o mundo por meus próprios olhos


Já faz tanto tempo
E preenchemos esse espaço
Em detalhe, atento
A deixar de lado o cansaço

Fosse o que fosse
Mil caminhos dariam num só
O velho que amou-se
É um passado esquecido no pó

Ao encarar a realidade
Tentei e juro o quanto tentei
Encontrar outra verdade
E dizer ao mundo que sim eu errei

Voltar talvez fosse opção
Repeti mil vezes sim
Encarei sem coragem o não
Estranho, tão estranho, por fim

Já faz tanto tempo
Tanto tempo perdido
Desperdiçado em momento,
Pessoa, sonho, sentido

E como quem por fim encontra
Uma pequena porção da verdade
Olho pra vida que agora apronta
Pra trilhar sua própria liberdade

Hoje tudo é sonhar na doce companhia
Do que acontece e só isso
Pra viver outra e nova poesia
Incompreendido num novo compromisso:

Ver o mundo por meus próprios olhos

Ítalo 11/08

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um sorriso na tarde cinza

Era só mais uma tarde cinza
Um livro de Pessoa na estante
Todo sentimento bobo e passageiro
Um poema dá sentido, faz importante

De não pensar em nada
Ela fez uma grande descoberta
E guardou pra si mesma
De nada vale ter a vida tão aberta

Pensou que a tarde era boa
Pensou em desistir e não pensar
Quis novas coisas pra desistir depois
Pensou quando é a hora, afinal, de tudo acabar

Ela não quis a noite
Suplicava o momento
Indiferente ao açoite
Dos segundos no seu sentimento

Todos os seus sentidos
Levados naquele instante congelado
Pra lugares a muito perdidos
Onde ela gostaria de ter estado

E o sol que ainda fugia
Da sua tarde, da sua vida
Pra longe longe ia
Em cinza a tarde estava perdida

Mas assim tão de repente
Ela sorriu e a tarde inteira
Num segundo se refez novamente

Aquele sorriso de cor tão somente
Era um visão, uma invasão
E mudou tudo completamente

Velhas palavras se esvaíram
Velhos hábitos se perderam
Bobagens que de tão vãs sumiram

A esperança, ainda que moribunda,
Acordou de um salto para o mundo
Pois mesmo na tarde cinza
Tudo pode mudar num único segundo

Ítalo Junho/2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

Começar tudo de novo


Perdi minhas palavras
Elas estavam guardadas
Em um pedaço de alma
E sinto a vida esvaziada

Um moleque safado
Uma vez que as encontrou
Sem a menor consideração
Pelos quatro ventos as espalhou

Quando me dei conta
Minhas palavras espalhadas
Estavam nos letreiros dos ônibus
Peduradas nos prédios e suas fachadas

Para o meu desespero
Eu as ouvi nas canções de uma dupla sertaneja
Na receita de um tempero
No aviso de um cão que foi perdido

Na moça do centro que grita dentista
Na campanha eleitoral
E até na descrição do cientista
Na descoberta da espécie exótica

O site de busca
Deu a volta no mundo
E em menos de um segundo
As descobriu em todos os lugares

São minhas palavras!
Carregadas, roubadas,
Largadas, amputadas,
Sem coerência, sem rima

E eu que delas despido
Não sou poeta
Sou prosa sem sentido
Como flecha sem seta

Perdi minhas frases feitas
Minha lista de verdades
Receitas para felicidade
Canções que não consegui decorar

Perdi meu guia de convicções
Planos e mais planos
Meu histórico de ilusões
Nomes, coordenadas, lugares

Perdi a anotação
Que ensinava como começar de novo
Perdi meu método, minha descrição
Mas eu preciso
E preciso muito
Começar tudo de novo

Ítalo 13/03/13

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Canção esquecida


Bom seria se existisse
Um resquício de música
Que lá no fundo persistisse
Esperando esperando

Que pudesse fazer voltar
Aquelas bobagens antigas
Que eu gostava de cantar
Fingindo que não era ilusão

E eu sinto uma inveja
Do artista mais louco
Um ressentimento por
Nao ser abençoado, por ser rouco

Quem dera fosse diferente
Fosse o improviso, a polifonia
Fosse o belo, o dodecafônico
Fosse o verso tirado da poesia

Mas o tempo passa
No seu alvoroço ruidoso
Vai embora e leva a canção
Tomara, eu digo pesaroso
Tenha sobrado um pouquinho

Ítalo 09/01/2013

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Silêncio


Talvez exista um jeito de se chegar ao silêncio
Como o que existe no espaço
Envolvendo o universo como num abraço
De paz, serenidade e beleza infinda

Os deuses gritam ordens e vontades
Os amores alardeiam suas cobranças e desagrados
A razão reclama toda a sua verdade
Os sonhos sussurram desejos improváveis
Enquanto o tempo anuncia o que foi e já não é

Talvez o silêncio seja, de fato, o começo e o fim de tudo
E quem sabe o remédio das dores do mundo,
E das minhas,
Seja tratá-las com silêncio, inteiro e profundo

Foi no silêncio que perdi melodias
E nele que mergulhei mágoas e poesias
Porém, embora estas não mais existam
Um milhão de vozes faz surgir dez de cada uma que sumiu

E mais uma vez, ao olhar o céu e ver as estrelas
E todos os constituintes celestes
Que guardam, no seu silêncio, toda a história da existência
Percebo que calar o mundo a minha volta
Seria uma espécie de graça
Uma benção de sabedoria

Ítalo 07/09/12