"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

sábado, 9 de julho de 2011

Um estranho

Ele morava na avenida Paraná
Num quarto com cama, guarda roupa e mesa
Na noite ia vadiar
Beber e cair, perder sua clareza

Sempre carregava consigo um caderno
Anatova rabiscos de uma estória
Para com todos, mostrava-se terno
E via o belo mesmo na indescutível escória

Cantava canções de antigamente
E poucos arriscaram dizer sua idade
Esvaia-se sorrateiramente
Dos assuntos de alheia felicidade

Era um mistério
Talvez pelo olhar sempre distante
Não tinha critério
No mundo nada lhe era importante

Dizem que espalhava versos
Rabiscados em pedacinhos de papel
Quem lia achava que era um anjo
Enviando ao mundo mensagens do céu

Subia e descia as escadas
De pequenas portas no centro da cidade
Entrava e saia dos bares e com tantos outros
Por ali mendigava ao mundo saciedade

Perguntei-me dos sonhos
Se os pode merecer um pobre coitado
Perguntei-me das escolhas
Se as fez e se por isso é julgado

Um dia, quando perguntado,
Disse só buscar uma razão
Do seu próprio modo
Não era
Não podia
Ser diferente

Era tão igual a qualquer outro

ítalo 10/07/11