"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

sábado, 8 de outubro de 2011

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada

(Cecília Meireles)


Não sei se você já ouviu
Uma dessas canções que não foi feita pra acabar
Dessas que poderia tocar uma vida inteira
Sem o que o mundo necessitasse de seu fim

Não sei se você já sentiu
Uma dessas melodias que são de chorar
E de marcar uma vida que é passageira
Pra pedir que não seja necesariamente assim

Mas certamente poderia dizer
Que você é esta música e tudo mais
E se te toco e te canto é por querer
A mais daquilo que pensava ser capaz

A poetisa estava muito errada!
Canto muito além do instante que existe
Canto porque o sonho persite!
Deixo de lado as coisas fugidias
E torno-me um ingênuo prisioneiro
Do seu amor e do seu ser inteiro,
Detentora das minha canções e melodias.

Ítalo 08/10/11