"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um sorriso na tarde cinza

Era só mais uma tarde cinza
Um livro de Pessoa na estante
Todo sentimento bobo e passageiro
Um poema dá sentido, faz importante

De não pensar em nada
Ela fez uma grande descoberta
E guardou pra si mesma
De nada vale ter a vida tão aberta

Pensou que a tarde era boa
Pensou em desistir e não pensar
Quis novas coisas pra desistir depois
Pensou quando é a hora, afinal, de tudo acabar

Ela não quis a noite
Suplicava o momento
Indiferente ao açoite
Dos segundos no seu sentimento

Todos os seus sentidos
Levados naquele instante congelado
Pra lugares a muito perdidos
Onde ela gostaria de ter estado

E o sol que ainda fugia
Da sua tarde, da sua vida
Pra longe longe ia
Em cinza a tarde estava perdida

Mas assim tão de repente
Ela sorriu e a tarde inteira
Num segundo se refez novamente

Aquele sorriso de cor tão somente
Era um visão, uma invasão
E mudou tudo completamente

Velhas palavras se esvaíram
Velhos hábitos se perderam
Bobagens que de tão vãs sumiram

A esperança, ainda que moribunda,
Acordou de um salto para o mundo
Pois mesmo na tarde cinza
Tudo pode mudar num único segundo

Ítalo Junho/2013