"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Já não era sem tempo

Já não era sem tempo
Perder as palavras
Que por descuido
Permaneceram caladas
Nem se cantam
Quando um momento oportuno couber
Nem se contam
Mas se perdem em um gesto qualquer

Foi inútil tentar
Rabiscar alguns versos
Foi ingênuo cantar
Em poesia pensamentos dispersos

Afinal,
Já não era sem tempo
E o tempo que foi
Já não é

Quem não esteve atento
Castigado foi
Com o mesmo lamento
E como em tudo que é natural
Palavras não são necessárias.

Ítalo 20/10/10

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Típico

Eu quis escrever
Em prosa que não era minha
E quis
Cantar tantas canções que não deveria

Eu quis olhar
O céu roséo na noite da cidade
E reclamar a impossibilidade
De deitar em seu regaço.

Eu quis
O medo do não ser
E a doce incoerência
Do querer não querer.

Eu quis tanto
Encontrar coisas que não procurei
E ser o que eu serei
Sem ser o que sou

Mas nunca quis
Essa imprevisibilidade aleatória...
Ah! Se pudéssemos
Reinventar nossas memórias!

Sempre quis me perder no mundo
Vê-lo, dele tirar bobagens para colecionar,
Me encontrar no seu fim,
Experimentar a ironia
De dar voltas e sempre voltar para o mesmo lugar.

Eu quis permanecer calado
Quando há tanto para dizer
E fechar os olhos
Para o absurdo que isso pode ser.

Mas querer é invevitável
E como quem nunca aprende
E ainda anda sonhando com o improvavél,
Abraço-o desenvergonhadamente.

Ítalo 12/10/10