"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pensa

Para finalizar esse ano fiz uma pequena adaptação do poema Pensa, de fevereiro de 2011,  e o transformei em música.
Espero que gostem!



Voa longe pensamento meu
Lá por trás dos prédios
Onde o sol escurece em cores diversas


Voa longe pensamento meu
Onde as estradas se perdem
E levam o que não deseja ir
E trazem o que quis ficar
Levam meu mundo sem despedir


Pensa e pesa as tuas dores
E com pesar pensa os teus amores
Só não imagine que teu coração
Encontrará caminhos na luz da pura razão


Pensa num jeito de não sentir
Pensa num jeito de não sentir
Pensa num jeito...
Pensa.


Ítalo 27/12/11

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Estranheza



Estranho
Como se todas as manhãs
Tivessem sido sempre azuis
E amanhecesse enfim uma manhã sem luz


Como se todos os sabores
Tivessem sido sempre doces
E se por engano, ou pela arte dos meus desamores
Experimentasse o amargo, o azedo e o insosso


Como se todas as músicas
Fossem Bach, Chopin, Debussy, Ravel
E saísse de repente, um tropel
De dissonâncias do piano esquecido
Onde a beleza costumava abrigar-se


Ah! Se eu soubesse
Das artes do que é feito o estranho
E dele tivesse
A explicação desse cansaço tamanho


E desses meandros intermináveis
Entre estranheza e ilusão
As coisas fossem por fim como são
E não um estado de como estão


Ítalo
02/12/11

sábado, 8 de outubro de 2011

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada

(Cecília Meireles)


Não sei se você já ouviu
Uma dessas canções que não foi feita pra acabar
Dessas que poderia tocar uma vida inteira
Sem o que o mundo necessitasse de seu fim

Não sei se você já sentiu
Uma dessas melodias que são de chorar
E de marcar uma vida que é passageira
Pra pedir que não seja necesariamente assim

Mas certamente poderia dizer
Que você é esta música e tudo mais
E se te toco e te canto é por querer
A mais daquilo que pensava ser capaz

A poetisa estava muito errada!
Canto muito além do instante que existe
Canto porque o sonho persite!
Deixo de lado as coisas fugidias
E torno-me um ingênuo prisioneiro
Do seu amor e do seu ser inteiro,
Detentora das minha canções e melodias.

Ítalo 08/10/11

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um luxo


Cedi ao luxo de ousar poesia
Um velho hábito de amores bobos
E esperas intermináveis


Ainda que eu não guarde mais
Os mesmos sonhos
Loucos
E só tenha agora rimas de sons
Roucos


Um luxo sim,
Porque fui tão leviano e 
Expus meu coração
Dele tirei o pouquinho das palavras
Que me restava


Ítalo 31/08/11

sábado, 9 de julho de 2011

Um estranho

Ele morava na avenida Paraná
Num quarto com cama, guarda roupa e mesa
Na noite ia vadiar
Beber e cair, perder sua clareza

Sempre carregava consigo um caderno
Anatova rabiscos de uma estória
Para com todos, mostrava-se terno
E via o belo mesmo na indescutível escória

Cantava canções de antigamente
E poucos arriscaram dizer sua idade
Esvaia-se sorrateiramente
Dos assuntos de alheia felicidade

Era um mistério
Talvez pelo olhar sempre distante
Não tinha critério
No mundo nada lhe era importante

Dizem que espalhava versos
Rabiscados em pedacinhos de papel
Quem lia achava que era um anjo
Enviando ao mundo mensagens do céu

Subia e descia as escadas
De pequenas portas no centro da cidade
Entrava e saia dos bares e com tantos outros
Por ali mendigava ao mundo saciedade

Perguntei-me dos sonhos
Se os pode merecer um pobre coitado
Perguntei-me das escolhas
Se as fez e se por isso é julgado

Um dia, quando perguntado,
Disse só buscar uma razão
Do seu próprio modo
Não era
Não podia
Ser diferente

Era tão igual a qualquer outro

ítalo 10/07/11

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Imperativos

Defina
O rumo dos seus passos
A direção dos pensamentos
Os valores (escassos)
Seus torpes sentimentos


Caminha
Sai do lugar, alcança liberdade,
Olha para os lados, para frente,
Perca a ilusória sobriedade
Acusando o mundo de demente


Escolha
Entre a dúvida sem fim
A ignorância inocente
A ilusão do assim, assim,
Ou finge de uma vez ser indiferente


Sinta
O sabor das cores
As cores da sinfonia
As sinfonias dos teus amores
E os amores todos que já mais sentiria


Planeje
Fugir ou para sempre ficar
(Quem dirá a diferença?)
Fingir ou no incerto ousar
(Quem dará sua sentença?)


Recuse
Todos os imperativos
Seus terrores paliativos
Não os ouça
Crie sua própria poesia

Ítalo 13/06/11

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Esta canção que eu fiz




Foi esta canção que eu fiz pra você
Quando encantado estava ao te ver
E esta paz que eu hoje eu pude receber!


Vamos embora!
Não há nada que nos prenda aqui
Se existe um mundo a espera
A espera de nós dois


E eu vou cantar
Todas as estrelas do céu
Todo verso toda poesia


E se ainda assim o canto acabar
Você verá em mim
No fundo dos meus olhos
Tudo que é lindo e é lindo por você!


Ítalo 12/05/10



segunda-feira, 18 de abril de 2011

Alguém que me rouba as palavras

As palavras escapam de mim
Escorregadias, negligentes
Nesta ausência me deixar, por fim,
Melodias somente


E o declarar-te não posso
Emudeço num sorriso que cala
Admirado te olho
Na esperança de um olhar que fala


Logo agora
Que tenho um mundo pra te dizer
E descrever-te as cores
Que me assaltam ao te ver


Mas esse sorriso
É pura beleza e me silencia
Ao querer dizer
Dessa alegria que me acaricia


Mas esse sorriso
Quando nos meus lábios vem descansar
Faz pra mim um porto seguro
Desse mundo, revolto mar,
E já não há mesmo muito pra falar


Dos seus olhos
Um excesso de sentido,
De razão e direção
Explicações não têm conseguido
Entender esse descaso
De entregar tão prontamente o meu coração


E quando reconheço em você
Uma pontinha de encanto
Sei que já leu tudo em mim
Muito antes do verso
Do canto


Antes mesmo de ser explicável
Algo em mim já foi sobremodo amável
Que posso ser seu
E não é preciso dizer mais nada.

Ítalo 18/04/2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Espetáculo a dois

"Ah! DinDi, se soubesses do bem que eu te quero,
O mundo seria, DinDi,
Lindo (...)
Por você, DinDi, 
Que é a coisa mais linda que existe (...)"
Tom Jobim


Dois bailarinos que se entretiam no palco
Sem pressa, sem hora,
As vezes sem música, sem luz,
Sempre sem vontade de ir embora


Noite adentro ela dançava
Passos de tirar o fôlego
Mas ele não se cansava
Prendia nela os olhos
Neles achava o ânimo e inspiração
Dois espelhos onde ele via solidão


Pelas mãos dele o corpo dela
Girou, flutuou no ar
Fez-se em movimento e beleza
Mas era o coração dela
Que ele se esforçava por alcançar
E que lhe escapava em terna sutileza


Dançavam a oportunidade única
No deleite daquele sorrir
Ensaiaram e cantaram Chico:
Me diz agora como ei de partir


Ele quis no corpo dela
Escrever poesia
Ele quis se saciar daquele perfurme
Que exalava e dançava junto com a melodia


Mas quando tudo acabou
Não havia mais justificativa
Para tocá-la
O mundo quase desmoronou
Tentou tocar a música, ligar as luzes,
Em passos provocá-la
Tudo era silêncio e tudo parou


Que pena que não havia platéia
É certo que de pé o mundo aplaudiria
Um bis eterno haveria
E o espetáculo poderia continuar


Ítalo 16/03/11

quinta-feira, 3 de março de 2011

Caminhada

Não sabia ao certo o que fazer, mesmo que dentro de mim gritasse uma vontade louca de chegar a algum lugar e fazer repouso dessas vontades absurdas que andam me levando pra lá e pra cá. Não poderia estar certo da validade de fazer-me andarilho errante, mas cada passo dado era um pouco mais longe e isso talvez fosse o suficiente. No céu a indecisão da chuva não deixava o dia acabar e não deixava a noite acontecer.  Cansado deixei que gotas brincassem nas lentes dos óculos que há muito já não interferem muito no meu jeito de ver o mundo.

Na minha mente os pensamentos pulavam, querendo ou não, estava levando os desejos em mim enclausurados pra passear. Pensei que talvez fosse hora de desistir dos versos e começar a escrever em prosa. Pensei que talvez fosse tempo de desistir do jazz, do Miles, do Coltrane, e arriscar uma invenção ou outra de Bach. Pensei que já estava crescido demais pra prender-me em porquês e que já passava a hora de concentrar-me nas respostas. A caminhada era prazerosa e do alto de um viaduto vi a cidade ao longe se acender, e lá trás os subúrbios escondiam o que estava além. Reticências dão lugar a imaginação e não foi diferente comigo. Pensei como seria bom se tudo que se anseia tivesse a distância de uma boa caminhada. As velhas figuras ilustravam o caminho, vez ou outra tinham até mesmo o poder de apressar o meu passo, e tornavam ainda mais pitoresca a minha contemplação poética, reduziam ao ridículo minhas aspirações de algo mais.

Procurei em vão pensar um motivo que me mantivesse caminhando, que me levasse pra bem longe, e, se houvesse chegada, eu pudesse por fim ser surpreendido. Depois de tanto caminhar e tanto pensar, distraído, esbarrei comigo mesmo, mas me esqueci de perguntar pra onde estava indo.


Ítalo 03/03/11

terça-feira, 1 de março de 2011

Sem palavras

Fiquei sem o que dizer
Quando das palavras me roubou
A inciativa
Quando desse seu revelar que em tudo
Me cativa


E rabiscar não pude se minhas mãos
Agarravam o momento
Nem as letras das velhas canções
Sobraram no pensamento


Sem palavras, sem versos
Sem o que dizer
Nem um discurso ensaiado
Já que não pude prever


Mas nesse silêncio
Me deixou tão só
Teus sinais tão confusos
Sem ser melhor, nem pior


Hoje não quer me ouvir
E foi embora
Tão justo e plausível
Só calado permaneço agora


Não sei quando voltarei a ter
As palavras que levou contigo
Se for longo o tempo
Talvez delas não vou querer
Quem sabe trarei novas comigo


Ítalo 01/03/10

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A história dele

Ele não entendeu como alguém podia
Estar tão a vontade com mundo ao seu redor
Nem conseguiu enxergar falsa alegria
O que via parecia verdadeiro
Ou melhor


Ele não percebeu se sabia
Do erro, do medo, uma velha história
Nem imaginou aonde seu pensamento iria
Nem na palavra, nem na rima
Perdeu a memória


Teve uma sensação que algo trazia
Pra dentro noite um resto de sol
Algo brilhava e reluzia
Não quis o amanhecer com seus amanhãs
Não mais só


Ele pensou perder o que lhe valia
Mas o verso não deixa só ser
É tudo e é sem serventia
E embora ele não soubesse o fim
Não quis saber


Muitos perguntaram
Quem é ele?
A dor latejava e seus olhos abaixavam
Pensaram ouvir bem baixinho
Meu nome é 
Ninguém


Ítalo 24/02/11

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pensa

Voa longe meu pensamento
Lá trás dos prédios
Onde o sol escurece em cores diversas
Morrendo junto com os desejos que nem sei
Calando canções que não cantei


Voa pensamento meu
Onde as estradas se perdem
E levam o que não deseja ir
E trazem o que quis ficar
Levam meu mundo sem se despedir


Tão distante penso eu
Onde os pássaros se cansam de voar
E o verde se perde no mar
Nas falésias desse viver
Tão bonitas de se ver
Tão sofridas de se fazer


Pensa pensa pensa
Queira só atitude
Pensa compor uma canção
Não força dizer toda completude
Concentra tudo em seu cantar


Não o alcanço e o deixo voar
Qual folha que não almeja o céu
Mas escorrega meandros no ar
E não descansa no capricho do vento


Queira Deus eu não pensar
Na lua que toma agora seu lugar
Permitindo os vícios líricos
Escravizando a mente em poetizar


Pensa e pesa suas dores
E com pesar pensa teus amores
Só não imagine que teu coração
Encontrará caminhos na luz da pura razão


Pensa num jeito de não sentir
Pensa num jeito de não sentir
Pensa num jeito...
Pensa...


Ítalo 10/02/11

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011



Teu poema
Esse provacar constante
Esse sorriso a cegar meu juízo
Essa sensação alastrante
A me provocar e a me possuir

Teu poema
Risada a ecoar no meu
Estado mais só
A mastigar meu carinho
Faz dele pó

Se eu soubesse que eras
Um todo poesia
Da cabeça aos pés
Te roubava em verso e melodia
Te escrevia sempre em meu dias

Teu poema
Lágrima que não vejo
Que entornas por não me querer
E neste ensejo
Me nega sem se deixar entender

Teu poema
Esse misto de falas e silêncio
Numa métrica que só faz confundir
E os meus olhos, atordoados,
Se encantam e só querem sorrir

Se eu soubesse que eras
Um todo poesia
Dos lábios aos olhos
Ao mundo real me prendia
Te resgatava de dentro do sonho que és

Teu poema
Abafou todo o resto
Que eu quis escutar
Mudou todo o caminho
Que eu quis trilhar

Teu poema
Não ligou para os desejos meus
Agora só teima e só
Diz Adeus

Ítalo 03/02/11

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Grandes amores



para meu avós;

Nos morros e morros
De puro cerrado
Serpenteiam os rios e
Os diamantes que tem procurado

Já pastam longe os bois
Que logo ontem foram campeados
E a luz de fim de tarde
Acaricia os pés de roça que foram semeados

Os passos, as vezes trôpegos, fingem a
Força do homem de idade
A labuta doméstica esconde a senhora
De tantos talentos, tanta capacidade.

Sob a sombra dele me fiz homem
Sob as preces dela me fiz sóbrio
Não se perde tanto aprendizado,
Embora os lugares, as pessoas, os anos consomem

Gostaria de ser criança novamente
E chorar pela rapadura
De tê-los a abençoar minhas manhãs
Em terna candura

E se eu não tiver arnica
E meu coração doer?
E se eu ir pra longe demais
Se o cavalo desandar a correr?

Gostaria de ser criança novamente
E ouvir canções de antigamente
Junto ao crepitar do fogão
Imaginar tanta história em minha mente

E se o leiteiro não vier
Ou não houver porteiras para abrir?
E se não houver mais tombos,
Desajeitos, casos tantos que nos façam sorrir?

Como estaca firme dentro de mim
Macaúba forte que ao tempo há de persistir
Serão parte do que sou, enfim,
Serão mais que meus mentores,
Mais que meus protetores,
Serão sempre meus grandes amores.

Ítalo 19/01/11

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Espaço apertado

No meu espaço apertado
Não cabe nem mais um pensamento
O meu passo cansado
Não vale nem mais um sentimento

As minhas rimas pueris
Os meu velhos clichês

Não conseguem explicar
E nem ousam encontrar
O porquê dos porques que moram aqui dentro

Ítalo 11/01/11