"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Um lugar

Talvez exista um lugar
Um universo paralelo
Das escolhas que não fizemos
Da ousadia que não tivemos
De todos os dias que juntos
Não amanhecemos.

Um mundo inteiro
Que eu possa te apresentar
Um céu cheio de estrelas
Que eu possa te mostrar
Mil noites, um banco, uma praia,
Abraçados junto ao mar.

Um lugar sem que as declarações
Não sejam sussuradas e apagadas
Pelo silêncio da noite.
Uma história, e não ilusões
De um romantismo juvenil,
Excêntrico e fulgaz.

E as verdades não ditas
Não mais machucarão.
E o mundo, a realidade e a distância
Não mais impedirão.

E eu te ouviria
Em todos os seus sonhos
E eu cantaria
Ao seu ouvido todas as canções.

Eu calaria o mundo
E entraria em seu silêncio
Mas pagaria cada segundo
Por seu sorriso mais casual.

Talvez esse lugar simplesmente
Está nos aguardando
Em algum lugar no tempo.
Talvez não exista,
Em matéria,
Mas quem sabe persista
Em fatasia,
Ante todos os nossos sonhos.

Ítalo 31/01/10

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Me perdi de novo
E quanto mais isso irá repetir?
Não sei onde estive,
Pra onde, agora, eu devo ir?

A voz que queria tanto ouvir
Disse todas as palavras
Que um dia a Alguém eu pedi.
Nem me negou com os olhos
Quando perguntei por um beijo
E não impediu um sorriso
Quando por fim consegui o meu desejo.

O sorriso que implorei por esquecer,
Enquanto canto, encanta
E ilumina o caminho que, mesmo sem percorrer,
Nos levará a lugar nenhum.

Nos seus olhos o mesmo convite
Me tira o sono e não posso dormir.
Recorro a música, a poesia, a literatura,
E um pouco mais, sem conseguir.
Permanece a esperança de que ela virá...
E vem.

Parece não ter cerimônia
Pra me machucar
E como consegue!
Mas no dia seguinte
Eu proponho fuga
Deixe que eu te carregue!

Noite após noite
Palavras são lançadas ao vento,
Acreditadas e colhidas
Por um poeta sedento.

Por fim,
Antes mesmo que eu pudesse partir,
Fiquei perdido.
Talvez mesmo se soubesse onde ir,
Não teria conseguido.

No caminho pra casa
Derramarei poesia
Pra que o futuro me permita de novo
Essa travessia
E eu chegue um dia até ela.

Ítalo 18/01/2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Olá!
Gostaria de compartilhar com vocês essa poesia de Vinicíuis de Morais que diz muito do que eu gostaria de dizer agora. Poderia me arriscar em alguns versos, mas acho que essa é uma poesia completa demais, de um autor que tanto me influenciou em seus versos, suas crônicas e em suas músicas.
Espero que gostem!

Ausência
(Vinícius de Morais)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.