"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

quarta-feira, 13 de março de 2013

Começar tudo de novo


Perdi minhas palavras
Elas estavam guardadas
Em um pedaço de alma
E sinto a vida esvaziada

Um moleque safado
Uma vez que as encontrou
Sem a menor consideração
Pelos quatro ventos as espalhou

Quando me dei conta
Minhas palavras espalhadas
Estavam nos letreiros dos ônibus
Peduradas nos prédios e suas fachadas

Para o meu desespero
Eu as ouvi nas canções de uma dupla sertaneja
Na receita de um tempero
No aviso de um cão que foi perdido

Na moça do centro que grita dentista
Na campanha eleitoral
E até na descrição do cientista
Na descoberta da espécie exótica

O site de busca
Deu a volta no mundo
E em menos de um segundo
As descobriu em todos os lugares

São minhas palavras!
Carregadas, roubadas,
Largadas, amputadas,
Sem coerência, sem rima

E eu que delas despido
Não sou poeta
Sou prosa sem sentido
Como flecha sem seta

Perdi minhas frases feitas
Minha lista de verdades
Receitas para felicidade
Canções que não consegui decorar

Perdi meu guia de convicções
Planos e mais planos
Meu histórico de ilusões
Nomes, coordenadas, lugares

Perdi a anotação
Que ensinava como começar de novo
Perdi meu método, minha descrição
Mas eu preciso
E preciso muito
Começar tudo de novo

Ítalo 13/03/13