"Ser poeta não é ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Destinos alheios

via web


Ele era um taxista e ganhava a vida chegando e partindo dos lugares. Um belo dia acordou e não sabia para onde ir. Uma verdadeira tragédia. Todas as placas indicavam, ao mesmo tempo, todas as direções e não havia uma parada sequer que fizesse sentido. Todos os olhares que encontrava escondiam ou evitavam indicar uma direção qualquer que fosse, e é certo que, às vezes, olhavam para horizonte, este sempre no seu vazio costumeiro de uma cor sem fim. Nas ruas, as mãos apontavam, mas não para um caminho específico, e sim para flores, pássaros ou mesmo para mulheres bonitas que passavam.

Sem saber para onde seguir, virou e seguiu meia centena de vezes. Em algum momento, foi parar em uma rua cheia de prostíbulos, onde perambulavam figuras estranhas de um mundo a parte. De um lado, alguns mendigos brigavam e enchiam o ar com palavrões, enquanto ali bem pertinho um senhor tocava num saxofone, lindamente, “A love supreme”.

Afinal, ainda sem saber aonde ir, continuou a vagar pelas ruas da cidade e já estava bem alto o sol. Em algum lugar, no centro de um aglomerado de gente, gritava e suava sobre o terno um homem indicando um caminho para a humanidade inteira. Curioso, nosso taxista desorientado ficou escutando toda aquela conversa sobre subir ou descer, pensando que a vida sempre lhe oferecera somente as opções: esquerda e direita.

Andou muito mais! Viu casas enormes com os seus jardins, passou por becos e vielas, rodeou lagoas, passou por parques e seguiu avenidas inteiras. Não se recordava, “para onde deveria ir meu Deus?”. Ligou o rádio e ouviu as notícias de que o seu país prosseguia bem e cantarolou canções que diziam sobre buscar amores e sonhos. Parou por um instante e leu as notícias sobre novas linhas de metrô que levaria a população para mais lugares e mais distantes. Por que somente ele não tinha um rumo e uma direção?

Foi aí que um passageiro entrou no carro e lhe apontou uma rua e um número. Nada de novo, como sempre fizeram os passageiros ontem, antes de ontem e etc. Então ele entendeu que nenhum caminho particularmente seu deveria ser tomado, eram as pessoas que entravam no seu carro que lhe diziam aonde deveria chegar. Seus destinos eram todos alheios.

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